O meu livro: queres ler?
Ana Isabel Pinto, Professora de Literatura e antiga aluna do INA, sugere:
O livro que escolhi é "O sapo apaixonado" de Max Velthuijs.
Razões da escolha:
Porque o amor é o tempero da
vida, a obra “O Sapo apaixonado”, editada pela primeira vez em Portugal em 1997
, é um ótimo exemplo de um livro que retempera qualquer leitor. Embora o seu
destinatário preferencial seja o público infantil, este álbum pode, e deve, ser
lido em qualquer idade (aspeto que carateriza a maior parte dos bons livros). Um qualquer leitor, quer jovem quer
adulto, pode esperar encontrar nesta obra um livro de capa dura, com guardas ilustradas,
cores garridas e uma relação coesa entre
a imagem e o texto, criados por um só autor: Max Velthuijs[1]
(ou não fossem estas as caraterísticas de um livro em formato álbum). Estes
aspetos, a meu ver, vão ao encontro do conteúdo do próprio texto – os sentimentos
– cujo leitor atento pode antever pelo título temático do livro: “O Sapo
apaixonado” – ou não fossem os sentimentos, preferencialmente, também eles
coloridos e coesos.
É, pois, uma obra que aborda os
afetos, muitas vezes tão difíceis de exprimir por palavras, pelo menos para a
maioria dos mortais, já que podemos pensar, por exemplo, na bela e conhecida definição
de amor proposta por Camões num dos seus sonetos, quando compara o amor ao
“fogo”. Porque o que sentimos é, às vezes, da ordem do indizível, “O Sapo
apaixonado” apresenta-se-nos como uma história irónica que associa as sensações
afetivas a uma doença. É, inclusive, a partir de uma espécie de “dicionário de
sentimentos” que a Lebre revela ao Sapo que este está apaixonado, após este lhe
ter exposto os seus sintomas “Tenho vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo.
E aqui dentro de mim tenho uma coisa que faz tum-tum.” (Velthuijs:3). Quão mais fácil seria a nossa vida afetiva
com um dicionário que nos permitisse consultar o que sentimos?
Outro hilariante acontecimento surge
após o sapo descobrir que está apaixonado, mas ironicamente não sabe por quem
(“O Sapo não tinha tido tempo para pensar nisso”; Velthuijs:9 ). Vem, depois, a
descobrir que está apaixonado “pela linda e adorável patinha branca”
(Velthuijs:10), o que causa uma certa estranheza aos restantes animais da
floresta. Note-se, aqui, uma referência a temas nobres como a valorização da
diferença, entre outros.
Em suma, muitas são as obras que
aludem aos sentimentos (pensemos, por exemplo, na obra “O principezinho” de Exupéry
(1987) e na construção da amizade entre a personagem principal e a raposa), mas
esta história, em particular, cativa-me de um modo especial e, por isso, vos
convido a lê-la. Nela podemos ver o amor/ a paixão / a amizade como estados
emocionais que nos fazem sentir um quentinho interior que parece reconfortar-nos
a cada instante, fazendo-nos querer sentir mais e melhor.
É, assim, uma obra fascinante que nos
faz repensar os nossos próprios sentimentos e em como na vida a relação com os
outros, uma vez definida, se pode tornar tão harmoniosa, reforçando a ideia de Exupéry
(1987:74) de que “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os
olhos...”.
Referência
Bibliográficas:
VELTHUIJS,
Max (1997). O Sapo apaixonado. Lisboa:
Caminho.
SAINT-EXUPÉRY,
Antoine de (1987). O principezinho.
Lisboa: Caravela.
[1] Max
Velthuijs (1923–2005) foi um pintor, ilustrador e autor Holandês que ao
longo da sua vida ganhou vários prémios literários, tendo recebido em 2004 o
grande Prémio Hans Christian Andersen na categoria de Ilustrador, sendo este
prémio considerado o mais prestigiante na área da Literatura para a Infância.
Da sua vasta obra constam vários álbuns e coleções, como a coleção “O Sapo” (de
que faz parte a obra aqui sugerida: “O Sapo apaixonado”), que conta como várias
obras como: “O sapo é sapo”; “O sapo tem um amigo”; “O sapo tem medo”; “O sapo
e o canto do melro”; “O sapo e o Vasto Mundo”, entre outras.
Título: O sapo apaixonado
Autor: Max Velthuijs
Tipo de documento: livro
Editora: Caminho
ISBN: 978-972-21-1069-3
Ana Isabel Pinto
Professora de Literatura na Escola Superior de Educação do Porto
Antiga aluna do INA (1986-2002)
Professora de Literatura na Escola Superior de Educação do Porto
Antiga aluna do INA (1986-2002)
...e agora ofereço o livro à biblioteca para que o possas ler...
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