O dia internacional do livro infantil comemora-se a 2 de abril, data de nascimento do escritor dinarmaquês Hans Christian Andersen
Todos os anos, o IBBY - International Board on Books for Young People - convida um autor de um dos países membros para assinalar o
Dia Internacional do Livro Infantil com uma mensagem que celebre a prazer da
leitura e a importância da literatura para os mais novos e em Portugal, esta
mensagem é acompanhada de um cartaz com uma ilustração de Ana Biscaia, que
venceu em 2013 o Prémio Nacional de Ilustração.
"...continuem a ler"
Mensagem, 2 de abril, 2014
Carta às crianças de todo o mundo
Os leitores
frequentemente perguntam aos escritores, como é que eles escrevem as suas
histórias – De onde surgem as ideias? Da minha imaginação, responderá o
escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde está a tua imaginação, e do que
ela é feita, e toda a gente tem uma?
Bem, diz o
escritor, está na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e
memórias e excertos de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e
melodias e pensamentos e rostos e monstros, e formas e palavras e movimentos e
palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e
cores e rimas e pequenos clicks e lufadas e sabores e rajadas de energia e
enigmas e brisas e palavras. E tudo isto girando dentro da tua cabeça, cantando
e caleidoscópicando e flutuando e sentando e pensando e coçando a
cabeça.
É claro que cada um tem uma imaginação: caso
contrário, não conseguiríamos sonhar. Embora a imaginação de cada um não
contenha a mesma coisa. Provavelmente dentro da imaginação dos cozinheiros
existem maioritariamente sabores, e a imaginação dos artistas deve ser composta
por muitas cores e formas. Já a imaginação dos escritores é repleta de
palavras.
E para os leitores e ouvintes de histórias, a sua
imaginação é também movida por palavras. A imaginação do escritor trabalha e
gira e forma ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos numa história,
e a história é feita de somente palavras, batalhões de rabiscos que marcham
através das páginas. De seguida, vem um leitor e os rabiscos ganham vida. Eles
permanecem na página, ainda parecem batalhões, mas também estão a brincar com a
imaginação do leitor, e o leitor está agora a moldar e a girar as palavras de
modo que a história decorre agora dentro de sua cabeça, como já aconteceu na
cabeça do escritor.
É por isso que o leitor é tão importante para a
história como o escritor. Existe apenas um escritor para cada história, mas
existem centenas, ou milhares ou até mesmo milhões de leitores, não só na língua
do escritor, mas também traduzido em muitas línguas. Sem o escritor a história
nunca teria nascido; mas sem as centenas de leitores à volta do mundo, a
história nunca teria vivido todas as vidas que podia
viver.
Cada leitor de uma história tem algo em comum com
todos os outros leitores dessa história. Separadamente e de alguma forma também
juntos, eles recriaram a história do escritor na sua própria imaginação: um ato
que é ao mesmo tempo privado e público, individual e comunitário, íntimo e
internacional. Pode muito bem ser o que os humanos fazem de
melhor.
Continuem a ler!
Siobhán
Parkinson
Autor, Editor, Tradutor e detentor
da posição de “Laureate na nÓg” (Children’s Laureate of
Ireland).