quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dia Internacional do Livro Infantil_2 de abril





O dia internacional do livro infantil comemora-se a 2 de abril, data de nascimento do escritor dinarmaquês Hans Christian Andersen

Todos os anos, o IBBY - International Board on Books for Young People - convida um autor de um dos países membros para assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil com uma mensagem que celebre a prazer da leitura e a importância da literatura para os mais novos e em Portugal, esta mensagem é acompanhada de um cartaz com uma ilustração de Ana Biscaia, que venceu em 2013 o Prémio Nacional de Ilustração.
"...continuem a ler"


 Mensagem, 2 de abril, 2014

Carta às crianças de todo o mundo


Os leitores frequentemente perguntam aos escritores, como é que eles escrevem as suas histórias – De onde surgem as ideias? Da minha imaginação, responderá o escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde está a tua imaginação, e do que ela é feita, e toda a gente tem uma?

Bem, diz o escritor, está na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e memórias e excertos de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias e pensamentos e rostos e monstros, e formas e palavras e movimentos e palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e rimas e pequenos clicks e lufadas e sabores e rajadas de energia e enigmas e brisas e palavras. E tudo isto girando dentro da tua cabeça, cantando e caleidoscópicando e flutuando e sentando e pensando e coçando a cabeça.


É claro que cada um tem uma imaginação: caso contrário, não conseguiríamos sonhar. Embora a imaginação de cada um não contenha a mesma coisa. Provavelmente dentro da imaginação dos cozinheiros existem maioritariamente sabores, e a imaginação dos artistas deve ser composta por muitas cores e formas. Já a imaginação dos escritores é repleta de palavras.

E para os leitores e ouvintes de histórias, a sua imaginação é também movida por palavras. A imaginação do escritor trabalha e gira e forma ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos numa história, e a história é feita de somente palavras, batalhões de rabiscos que marcham através das páginas. De seguida, vem um leitor e os rabiscos ganham vida. Eles permanecem na página, ainda parecem batalhões, mas também estão a brincar com a imaginação do leitor, e o leitor está agora a moldar e a girar as palavras de modo que a história decorre agora dentro de sua cabeça, como já aconteceu na cabeça do escritor.

É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Existe apenas um escritor para cada história, mas existem centenas, ou milhares ou até mesmo milhões de leitores, não só na língua do escritor, mas também traduzido em muitas línguas. Sem o escritor a história nunca teria nascido; mas sem as centenas de leitores à volta do mundo, a história nunca teria vivido todas as vidas que podia viver.


Cada leitor de uma história tem algo em comum com todos os outros leitores dessa história. Separadamente e de alguma forma também juntos, eles recriaram a história do escritor na sua própria imaginação: um ato que é ao mesmo tempo privado e público, individual e comunitário, íntimo e internacional. Pode muito bem ser o que os humanos fazem de melhor.


Continuem a ler!


Siobhán Parkinson


Autor, Editor, Tradutor e detentor da posição de “Laureate na nÓg” (Children’s Laureate of Ireland).

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